João da Baiana, pioneiro do samba

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Meu Deus eu ando com o sapato furado
Tenho a mania de andar engravatado
A minha cama é um pedaço de esteira
É uma lata velha que me serve de cadeira

O meu chapéu foi de um pobre surdo-mudo
As botinas foi de um velho da Revolta de Canudos
Quando saio a passeio as almas ficam falando
Trabalhei tanto na vida pra você andar gozando

(Cabide de Molambo, 1928)

João Machado Guedes (1887/1974), o João da Baiana, é tido como o introdutor do pandeiro no samba. Ele também foi o primeiro a ser visto raspando a faca no prato, criando o inusitado instrumento musical que acabou se popularizando mais tarde. Era nos casarões das Tias Baianas, como o da Tia Ciata, que aconteciam as festas tidas como pilares do samba carioca. João da Baiana era filho de uma delas, a Tia Preseiliana. João aprendeu samba e candomblé até os nove anos, mas sempre manteve empregos paralelos que nada tinham a ver com a música. Aos doze foi ajudante de cocheiro de Hermes da Fonseca, futuro presidente da República.

Trabalhou no Circo Spinelli, na claque que aplaudia Eduardo das Neves, o palhaço Dudu, que se notabilizaria como cantor. Aos 15 anos era auxiliar de carpinteiro de estaleiro e atração nas festas pela sua habilidade como pandeirista. Tornou-se conhecido o episódio no qual a polícia apreendeu seu pandeiro impedindo-o de tocar na casa do senador Pinheiro Machado. O senador, ao saber do fato, o presenteou com um pandeiro novo.

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Deixou o estaleiro pelo trabalho de estivador quando tinha 20 anos e em pouco tempo é promovido a fiscal. É histórica a sua recusa ao convite de viajar para a Europa com o grupo Pixinguinha e os Oito Batutas, porque não quis arriscar-se a perder o cargo de Fiscal da Marinha.

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Sua primeira composição foi Pelo Amor da Mulata, de 1923, seguindo-se Mulher Cruel, em parceria com Donga e Pixinguinha, e ainda Pedindo Vingança e O Futuro É Uma Caveira. O samba Cabide de Molambo, fez grande sucesso em 1928, quando João já era ritmista famoso nas rádios, pelo prato e faca e pelo pandeiro.

Fez carreira nos grupos Conjunto dos Moles, Alfredinho no Choro e Grupo do Louro. Formou com Pixinguinha e Donga a Orquestra Diabos do Céu e o Grupo da Guarda Velha, cujo grande sucesso foi Patrão Prenda Seu Gado. João da Baiana também compôs Batuque na Cozinha, samba que ficou conhecido nacionalmente na voz de Martinho da Vila.

Em 1940, teve selecionada a sua corima Ke-ke-ré-ke-ké pelo maestro Leopold Stokowski, que recolhia música brasileira para ser estudada nos Estados Unidos. Voltou a gravar em 1954 com a Guarda Velha, a convite de Almirante, e em 1968 com Pixinguinha e Clementina de Jesus. Além de compositor, ritmista e cantor foi pintor primitivista de cenas de carnaval e paisagens. Retirou-se para a Casa dos Artistas aos 85 anos, falecendo dois anos depois.

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